segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Não tive filho nem fui pra Ipatinga

Faz quase um mês que falei essa frase aí em cima pra uma amiga. Eu falei isso como uma piada, é claro, de algumas coisas que aconteceram com as pessoas perto de mim esse ano e como em comparação com todas essas "emoções" o meu ano foi uma pasmaceira total. Agora que estou no último dia de 2007, e olho para trás, para tudo que se passou comigo digo que foi um ano doloroso. É, eu acho doloroso é uma boa definição.

Não foi um ano ruim. Não foi um ano terrível, digno dos pesadelos mais horríveis. Não enfrentei as irmãs irremediáveis da vida (a fome, a morte e a guerra), e em vários aspectos, minha vida melhorou sensivelmente. Mas foi um ano doloroso porque tive de olhar para dentro de mim. Tive que rever a mim mesma. E pela primeira vez na vida eu tive dúvida. Eu questionei meus planos e metas, pus em cheque o que eu queria, eu perdi a minha confiança inabalável nas minhas capacidades...

Agora eu não tenho dúvidas mais. 2007 foi o ano da purgação. Foi uma dor necessária. Como o guardião de limiar da Jornada do Herói. Engraçado que o guardião em questão era eu. *idéias pulando da cabeça*

Em 2008, eu vou fazer minhas coisas, e elas se dividem em três grandes blocos: 1) realização - o que envolve minha escrita, 2) confiança - o que envolve minha atitude perante a sociedade e 3) finalização - o que envolve tudo, na verdade. Tenho alguns projetos em mente e eles prometem. hahaahahaha Ah, eu to me sentindo mais leve...

Não tive filho e nem fui pra Ipatinga, mas pari uma nova esperança e dei uma volta pelos reinos interiores da mente... Foi uma viagem solitária e de cavalo manco, mas é assim que a história fica boa, não é?




Nada jamais se perde... nada que não se possa encontrar... Tio Steve nunca esteve tão certo.







terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Eu acredito no Natal

É, eu acredito no Natal. Independente de ser data religiosa ou comercial. No Natal, as pessoas dão melhor de si: seja para comprar bons presentes, seja para preparar uma ceia gostosa, ir à igreja ou visitar familiares.

Eu acredito no Natal. Porque eu acredito em pessoas. Eu acredito que as pessoas podem ser boas, que o ser humano possui uma capacidade imensa de amar, mesmo que às vezes se esqueça disso.

Eu acredito no Natal. Porque o Natal é a marca do nascimento de algo bom e esse algo bom pode fazer parte de todo mundo.

Eu acredito no Natal.

Porque existe luz.
(Se você souber onde acender...)

Eu acredito no Natal.

E você?










quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Um outro pensamento (ou Finding my way)

Nossa, parece que mil anos se passaram desde a minha última postagem (lamento) nesse blog. E eu não percebi o quanto sentia falta disso aqui até agora. Eu preciso me expressar. Tem hora que o mundo parece sumir e eu preciso fazer alguma coisa, qualquer coisa pra conseguir respirar... É, eu preciso mesmo me expressar. É uma coisa que não se faz apenas por amor, mas por necessidade mesmo. Como uma grande tomada de fôlego antes do mergulho. E a palavra escrita funciona pra isso – seja ela num pedacinho de papel ou na forma de pixels num blog... Mas é que tanta coisa tem se passado na minha cabeça... ordenar as coisas tem ficado cada vez mais difícil...

Todas as pessoas no mundo passam por um período assim em suas vidas. É quando a cabeça fica com idéias demais. Você pára tudo e começa a tenta organizar, mas começa a perceber que algumas peças do quebra-cabeças estão sobrando. Aí é hora de jogar fora o que não serve, mas você não sabe o que não serve porque perdeu a tampa do jogo, o modelinho onde se olha a figura a ser montada... É uma sensação de perda por excesso; como - e vou usar uma imagem muito comum da literatura agora - descer uma escada à noite e esquecer o último degrau. Aquele instante de desespero em que o pé fica suspenso no ar, é essa a sensação. Como se preparar para comer 10 cubinhos de chocolate e descobrir que só tem oito, ou atravessar uma piscina a nado e perceber na metade do trajeto que não se tomou fôlego o suficiente... Você olha para o lado e não vê ninguém como você. Completamente outsider, fora do mundo, fora das coisas, fora de lugar. Todas as pessoas no mundo passam por isso - uma espécie de paranóia universal, ninguém é especial por se sentir essa, por mais que pense que seja -, algumas percebem. Outras não.

Quem não percebe esse sentimento sufocante de não saber para onde correr normalmente pensa que é só uma fase da vida, que vai passar. Daí essas pessoas saem com os amigos, tiram umas férias, uns dias na praia, escutam uma música triste. Mas eu não sou uma dessas pessoas. Feliz ou infelizmente (eu não sei) sou daquele tipo que percebe e sente a paranóia universal agindo, e não há saída com amigos, férias de lugar bem longe, praia e música triste existente suficiente no mundo que faça a sensação ir embora. É como estar na tomada de um filme onde o personagem é filmado em câmera lenta, num lugar desolado, com um olhar perdido nos caminhos além...

É muito fácil saber onde se quer chegar. É fácil escolher o alvo. A coisa complica nos meios. Como se chega lá, que caminho escolher. Às vezes você está num caminho e descobre que estava no caminho errado; ou você estava no caminho certo e alguém te disse que era o errado, então você voltou mas depois descobriu que o certo era aquele mesmo e agora não se lembra mais da entrada da primeira via; ou você simplesmente vai andando numa direção, de olhos vendados, porque tem medo demais de ver para onde está indo... A vida é andar num trecho escuro de floresta: você vê poucos passos à frente, morre de medo dos arbustos em volta e torce para que aquela direção seja a da clareira de sol.

Algumas pessoas pensam que sentar no chão e esperar é uma forma melhor. Mas uma vez uma amiga me mandou uma mensagem no celular (aquelas coisas inacreditáveis da vida) que dizia: "Mesmo se estiver no caminho certo, se sentar, será atropelada". Imagina então se você se sentar no caminho errado! É preciso ir em frente. E se não for por fé, então que seja por lógica. Outras pessoas ainda acham que vivem intensamente cada momento, quando na verdade estão morrendo instantaneamente a cada movimento. A diferença é tão tênue... e tão crucial! Às vezes é difícil perceber. Porque você não parou para pensar, não jogou as peças que sobraram fora...

Não é preciso ter uma coragem grifinória para mudar o mundo. Porque para mudar o mundo você precisa partir logo da parte mais difícil, que é você mesmo. Lutar contra si em busca do que é verdadeiro (eu gosto de acreditar que a verdade existe, e está aí em algum lugar além da nossa compreensão) é uma batalha que pouca gente gosta de lutar. É uma bandeira que ninguém quer carregar. Porque é muito pesada... A chance que você tem é agarrar aquele momento da sua vida onde as idéias se acumularam demais, onde se perdeu por excesso. Buscar essa solução, esse pontinho de luz quente, coisa que venho tentando fazer obcessivamente todas as manhãs, dói mais do que se pensa porque dói justamente onde não pode doer... O eu é uma chave que perdeu a fechadura...

Eu respiro fundo. Deixo a coisa fluir, deixar pra depois... mas não dá. Eu sou daquelas pessoas que tomou consciência desse sufocamento e não há nada mais perigoso no mundo que uma tomada de consciência. Muita gente diz que a ignorância é uma bênção. Pode até ser. Consciência traz responsabilidade... incomoda. Mas se for pra escolher, eu escolho a consciência. É fácil demais viver de olhos fechados, difícil mesmo é aprender a enxergar no escuro. Fugir é voltar todo o caminho escuro da floresta. Uma hora ou outra, você vai ter que encarar a trilha de novo. Então, não é melhor fazer tudo de uma vez? Tentar seguir em frente, mesmo que tropeçando e escolhendo uns caminhos errados de vez em quando, rumo a você mesmo?

O que se encontra quando você se encontra, eu não sei. A maioria das perguntas do mundo não têm resposta, porque quando se responde uma, mais outras tantas se abrem... Como entender todas as conexões, todas as possibilidades de vida que se pode ter? Todos os caminhos que podem ser trilhados? Quantas possibilidades se abriram quando você acordou de manhã; e você escolheu só uma, então para onde foram as outras e quais seriam elas? Por que você encontrou com determinadas pessoas ao longo da vida? Quem era aquele homem sentado ao seu lado no ônibus? Quem era aquela mulher que passou do outro lado da rua? Por que o caminho deles cruzaram com o seu? E se você tivesse dito olá e realizado uma possibilidade? Por que escolhemos um caminho e não o outro?

O sufocamento, essa angústia, essa reflexão desenfreada, esse... sentimento preso dentro de nós parece se desenrolar infinitamente e eu só queria poder catar tudo, colocar na bolsa e ir dormir! Mas não dá. Eu ainda não cheguei lá. Eu to parada no meio da encruzilhada e essa situação é que mortifica de verdade. O mundo parece tão complexo, tão complicado. E tudo isso que se avoluma no ser humano pelo menos uma vez na vida, essa paranóia universal que alguns percebem e outros não, é uma coisa tão simples, tão primária, que está aí desde que o mundo é mundo e se resume a duas considerações:

Quem sou eu
e o que estou fazendo aqui?










terça-feira, 23 de outubro de 2007

Um sentimento #2



Can´t you see I´m crying
I don´t even like it



- Is this it? - The Strokes

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Com quantos lencinhos se faz um personagem querido

*Aviso: Essa coluna contém pequenos spoilers sobre o destino de algumas personagens de séries como Lost, Harry Potter, Senhor dos Anéis, Piratas do Caribe, Star Wars... Então fique avisado!*


O GRANDE ESPOILER DO TEXTO! (Lost)
Motivo: Comecei esse post depois de assistir à morte de Charlie Pace (personagem de Dominic Monaghan) no episódio Throught the looking glass part 2 do seriado Lost.


Eu chorei com a morte de Charlie três vezes e devo ter me desesperado pela iminência dela umas outras três enquanto assistia o seriado Lost. Mas é só um personagem, que bobeira!, muita gente pode dizer, mas ele era o meu favorito. Daqueles personagens que marcam a gente. E eu adoro personagens assim!

Percebi que Charlie Pace era o meu favorito em Lost quando ele é encontrado "morto" dependurado pelo pescoço numa árvore num episódio da primeira temporada da série. Eu e minha irmã - que assiste a série comigo - choramos desesperadamente até Jack ressucitá-lo com uma pancada no peito em meio a uma cena desesperada. O motivo da "morte" de Charlie era o resgate de uma moça grávida pela qual ele se apaixonara. Passional, ao encontrar o sequestrador dispara uma sequência de tiros no peito dele, sem se importar com as informações que o raptor poderia fornecer ao grupo. Mostra de crueldade... ou de humanidade?

Sempre achei a caracterização de Charlie bem humana (Aliás, humanidade é um crédito que dou aos personagens criados pelos roteiristas fodas de Lost), mas daquele tipo de humanidade que faz com que nos identifiquemos com ele, com seus problemas e desejos. Charlie era o cara bacana, gentil, que valorizava a família e a religião (difícil tirar da cabeç a cena de sua morte, onde ele utiliza as últimas forças para fazer o sinal da cruz). Era sensível, um artista talentoso apesar de ter desperdiçado criatividade na banda medíocre que montou com seu irmão Liam. Liam, aliás, é protagonista dos piores pesadelos e assombrações de Charlie, na maioria das vezes acompanhando um punhado de heroína.

Enquanto o vôo 815 da Oceanic caía na misteriosa ilha, Charlie usava heroína no banheiro do avião. A relação da personagem com vício das drogas é explorada na primeira e na segunda temporada. Descobrimos que Charlie é levado à heroína por influência de seu irmão. Auto-confiança nunca foi lá a maior característica da personagem, e numa crise de frustração, Charlie toma sua primeira dose. Suas crises de consciência são realmente interessantes, assim como as escolhas que ele toma para se livrar - ou não - da heroína. Esse conflito entre o cara de bom coração, as drogas e o irmão influenciável me faz lembrar horrores de uma outra série muito querida por mim, que tem um personagem no esquema. É Eddie Dean, de A Torre Negra.

Eddie também é viciado em heroína e também foi influenciado pelo irmão mais velho sem noção (um rapaz simpático chamado Henry). No universo criado por Stephen King, Eddie é escolhido para ser um dos membros da companhia de Roland de Gilead, o último pistoleiro. Arrastado para o Mundo Médio (uma espécie de universo paralelo ao nosso), Eddie sofre para se adaptar e principalmente, para aprender a viver sem heroína. Os dois têm realmente muito em comum: são inseguros, passionais, carismático e têm sempre uma piada na ponta da língua - referência à cultura pop são com eles mesmo. Até mesmo o processo para se livrarem das drogas é bem semelhante: Charlie consegue isso com a ajuda de Locke e de uma imensa força interna que ele mesmo não sabia existir; Eddie, perdido numa praia perigosa num mundo estranho ao lado de um pistoleiro moribundo, é obrigado a lutar para sobreviver e encontra motivo na pessoa de Susannah, a mulher de múltiplas personalidades que se torna sua esposa. O amor, em ambos, é motivo para mudança: Charlie se apaixona por Claire (a moça que fora raptada), chegando até mesmo a amar o filho dela como se fosse seu; o amor de Eddie por Susannah é a força que faz com que ela consiga uma certa instabilidade e se torne uma pessoa una. Charlie e Eddie são pessoas essencialmente boas, eles nunca planejaram algo ruim; se se envolveram com crime, drogas ou violência, foi por má sorte e falta de confiança. Esse lado é mostrado de forma muito forte nas duas séries: para Charlie, no episódio Greatest Hits e para Eddie, no volume Terras Devastadas.


Por que fazer essa "literatura comparada" agora? Porque percebi como os personagens que mais amo, que me fazem rir e chorar, que me fazem torcer, pular, gritar, xingar e vibrar possuem traços em comuns. Alguns é claro, não são tão parecidos quanto Charlie Pace e Eddie Dean, mas eles dividem algumas características primordiais de encantamento, não é a toa que muita gente se identifique com eles....


Temos por exemplo Luke Skywalker, o grande herói dos episódios IV, V e VI de Star Wars. Luke não era nenhum viciado, é claro, mas tinha grande insegurança, apesar do desejo latente de fazer algo bom para o mundo. Insegurança essa que pode ser encontrada em Ron Weasley, o melhor amigo de Harry Potter, que sempre se sentiu inferior e arrastado pelas circunstâncias. Como esquecer de Sam Gamgi, o eterno companheiro de Frodo em sua jornada com o Anel? Ou do Dwayne, em Pequena Miss Sunshine? Vale lembrar também do pirata trapaceiro Jack Sparrow, que se torna herói após se sacrificar em nome dos amigos - e em nome de seu próprio nome, é claro - em Piratas do Caribe - O Baú da Morte. Sacrifício aliás, que faz Luke Skywalker em O Retorno de Jedi, que faz Charlie Pace em Throught the looking glass.

Personagens assim encantam o público. Ganham a platéia pelo coração no primeiro momento. Seja belo bom coração, pelos problemas comuns, pelos sacrifícios que fazem. É com esses personagens que estamos durante a trama. E algumas pessoas levam de uma forma bem pessoal. Eu, por exemplo. Eu me apego. Me apego mesmo. É impossível não chorar com Rudy Steiner no final de A menina que roubava livros, é impossível! Te arranca as tripas, você sente que podia ser você, seu amigo, seu namorado. Podia ser qualquer um! Essa é a grande chave de personagens assim. Sua singularidade reside no fato de que poderiam ser qualquer pessoa.


Eu tenho minha própria teoria de narrativa, e ela diz que uma história que não possui personagens assim, uma trama que não tem personagens queridos para quem se possa tirar os lenços do bolso, não é uma história completa. Faltará sempre um pedaço. Um elo identificador. O tema da frustração, do sacrifício, da lealdade mostrados da forma mais real, não como algo além da imaginação. A hunidade que não é cruel, que não é dura, que não é boa, que é simplesmente humanidade. Que dá alguma esperança. Você chora no fim do filme, seja ele feliz ou triste, e diz "Putz, fulano é que era o herói".

O Charlie Pace é que era o herói no fim das contas, aceitou a morte e foi. Foi sem medo. Para salvar aquelas que amava. E eu não tenho nenhum motivo para esconder que eu me comovi (leia-se me acabei de tanto chorar). Muita gente diz que esse tipo de personagem é típico de escritor/diretor que gosta de comoção barata, de choro e de vela; se for, problemas, porque é simplesmente o máximo! Quem é que não gosta de finais triunfantes e gloriosos? Quem não cai de amores por personagens assim?





Só quem não tem coração mesmo.






*Post dedicado a todos aqueles que amam personagens que nos fazem levar pelo menos uma caixa de lencinho de papel no bolso quando vê um filme, lê um livro ou vibra com uma série de TV. Em especial, para as outras viúvas do baixista.






sábado, 29 de setembro de 2007

Passagem - O Casamento

*Só mais uma coisa que me apareceu durante uma aula de Teoria II*



A dor no peito era tão forte que distorcia sua imagem no espelho.


- Venha, querida.

Ela olhou, magoada, para a porta; fechou os olhos com força e só depois voltou para encarar o cômodo em que se encontrava.

Havia algumas cadeiras e mesinhas de cor escura mais ao fundo; tudo tinha sido arrastado às pressas para dar lugar aos pertences da noiva. As grandes caixas – onde antes estivera o lindo vestido perolado – agora estavam vazias. Ninguém se dera ao trabalho de arrumar a bagunça. Pedaços de linha, retalhos, alfinetes no chão. As mulheres saíram correndo rindo alto, lançando um último olhar curioso à jovem noiva, e foram para a igreja esperar.

- Venha, querida.

Esperar.

Esperar porque as noivas sempre se atrasam. E a noiva estivera sozinha num cômodo nos fundos da igreja, na tentativa de não esperar demais...

- Venha, querida.

O espelho era grande, dava para ver o corpo inteiro refletido. E ela agora via com amor os detalhes mínimos daquele vestido tão querido. Como se cada pérola, brocado e lantejoula fosse na verdade um pedaço daqueles que esperavam lá fora.

(Esperar demais?)

- Venha, querida.

A voz agora estava mais firme. Mas não demais. A noiva deixou os olhos se encherem de lágrimas. Torceu as mãos com força, mas no fim não conseguiu suprimir mais o soluço. A mãe tinha dito para não chorar, para não borrar a maquiagem. “Deixe para chorar no altar, querida – ela dissera – segure bem, porque toda noiva fica emocionada mesmo”. Tentou engolir o choro com força, mas não conseguiu. Era grande demais.

- Venha, querida.

Pensou no noivo que já devia estar à sua espera no altar. No altar que tinha fitas brancas, como ela escolhera. O noivo não merecia que ela fosse daquela maneira. Não, não merecia.

O reflexo no espelho era uma imagem linda. A noiva no centro, com seu vestido imaculado, o buquê na mesinha logo atrás, a tiara relusindo...

- Venha, querida.

Ela soluçou alto mais uma vez, agora pensando no pai. Com quem ele entraria na igreja? Não, ele também não merecia aquilo. Não merecia.

- Venha, querida.

Era um sonho que ficava no espelho. Um instante congelado do que poderia ter sido. Respirou fundo. Não queria chorar numa hora daquelas.

- Venha, querida.

“Eu te amo”. Foi o último pensamento e o enviou ao noivo do altar de fitas brancas.

- Venha, querida.

Ela foi.

A morte, afinal, era doce e mansa, como embalo de berço.






sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Um sentimento



Now it´s three in the morning and you´re eating alone

Oh the heart beats in its cage


- Heart in a cage - The Strokes

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Assim como Liesel

Eu pensei que não escreveria sobre esse livro tão cedo, mas acho que algumas coisas estão além do meu controle. Uma delas é a minha Vontade de escrever. Vontade com letra maiúscula, porque ela tem vida própria...

Tudo bem que a Vontade não veio do nada - como muita gente inocentemente acredita por aí -, mas não deixou de vir inesperadamente. E isso tudo por causa de dois segundos numa tela de televisão. Pois é, era o Markus Zusak na bienal do livro; meu pai gritou e eu fui correndo ver. Nâo sei porquê, mas foi uma imagem tão bacana... O Zusak lá com aquela cara de bom rapaz, um monte de gente em volta, a promoção do livro logo atrás... A Vontade não chegou naquela hora, claro que não - criaturinha voluntariosa ela é - mas ficou pregada na minha orelha, falando baixinho. E agora ela resolveu gritar... então aqui estou.

A menina que roubava livros é envolvente. Nâo tem outra palavra para descrever. Você começa a ler, estranha de início, e depois é completamente absorvido pela atmosfera mágica que esse livro cria. A história se passa na Alemanha Nazista como tantas outras, mas tem seu toque especial. A narrativa é fragmentada, cheia de idas e voltas. A ordem não é cronológica. A Morte - narradora de todos os eventos - acaba se tornando mais uma das personagens com seus comentários vivos (ironicamente) e pontuais. As personagens... ah, as personagens são a alma do livro! Merecem um parágrafo à parte...

Todos eles são bem construídos, complexos naquela atmosfera de simplicidade da Molching. O casal Hubberman, a mulher do prefeito, Max, os Steiner... os Steiner. Isso me faz ter que falar de Rudy. Meu favorito. Rudy é... Rudy. Simples, decidido, com muita força de vontade. O namorado que a menina nunca teve, é um título lindo para ele. Acho que não é possível alguém ler A menina que roubava livros sem cair de amores por Rudy Steiner. Por sua humanidade. Pelo modo de como ele se aproxima tanto de nós... e de Liesel. Liesel Meminger, a menina que roubava livros. Que encontrou a morte de três formas tão impactantes, que a própria Morte resolveu contar a história dela.

Eu me impacientei um pouco com as palavras em alemão de início, mas depois percebi que não havia vocativo melhor para alguém naquele livro que não fosse Saurkel... Engraçado como a gente consegue entender uma outra língua sem realmente saber essa língua. Bacana como isso foi mostrado no livro. Faz parte da própria narrativa. Faz parte do ritmo da história.

Interessante também é o modo de como a história se constrói de outras história. É um livro contado por alguém que leu outro livro (no caso, a Morte é quem lê); e este livro, por sua vez, foi escrito originalmente por Liesel, baseada no livro de Max. Planos interessantes, não? Isso sem levar em conta os planos das personagens mais secundárias...

Podem dizer o que quiserem, mas A menina que roubava livros é literatura da melhor qualidade. Se teve um final típico e cliché, se foi o reconto de uma realidade, se criou personagens apenas para cumprir uma função emocional, se foi ruim por qualquer desses argumentos - ou outros - de teóricos literários, não importa. Isso aqui é literatura da nata. Mostra o melhor da humanidade, o melhor do ser humano e de uma forma naturalmente verdadeira, tão nitidamente verossímel. Literatura.

É um texto fragmentado, mas não consigo imaginar outro modo de falar sobre este livro. Só quem lê sabe. Além do mais, a Vontade é feita de algumas nuances que às vezes a gente não entende... A Vontade é fragmentada lá à seu modo. Conta suas histórias do jeito Dela.

Assim como Liesel.




quinta-feira, 6 de setembro de 2007

A Torre Negra de King

*Sem spoilers, pode ler sem medo*




Stephen King diz ter concebido o que viria a ser o início da série A Torre Negra aos 19 anos. 19; o número-chave da série. E o número de vezes em que você provavelmente não vai conseguir dormir, porque além da angústia-regra que produz cada livro de King, esse, em especial, leva o nosso pensamento longe e podemos sentir que somos parte da companhia de Roland de Gilead, o último pistoleiro, rumo à lendária Torre Negra - eixo de todo tempo e espaço.

A história é ambientada numa espécie de mundo pós-apocaliptico, mas com claras influências medievais. Influência, aliás, é o que não falta nessa série e King não as nega. Na contra-capa da edição brasileira e no prólogo dos volumes da série podemos ler com todas as letras "baseado no poema ´Childe Roland à Torre Negra chegou´ e no universo de J.R.R.Tolkien". E não pára por aí. Temos referências à lenda de Rei Arthur, músicas dos Beatles tocando em pubs em bares duvidosos no meio do deserto, bandidos malvadões com máscaras de vilões da Marvel e referências mil à cultura contemporânea geral. Só mesmo alguém como King para ter a coragem de admitir que não bebeu da fonte, nadou na fonte, e com a água batizou seu novo mundo de Mundo Médio. Sugestivo, não?

Ah, mais que isso são as ligações que King faz com suas outras obras e com sua própria vida. A série A Torre Negra é uma miscelânia de lugares, personagens, fatos e ironias deliciosamente agudas; daquelas que fazem o leitor de outros livros do autor rirem de orelha a orelha. A série é realmente a grande obra de King, não por ter levado décadas para ser escrita, mas porque contém em seu universo todos os outros do autor.

O primeiro volume, O Pistoleiro, nos apresenta o herói (herói?) da história, Roland de Gilead, um personagem que poderia ter saído de um filme faroeste clássico. Roland está na cola do Homem de Preto (ah, isso não é um spoiler, é a primeira linha do livro rs), uma busca menor dentro da grande ambição de sua vida que é chegar à Torre Negra. O mundo de Roland está deteriorado a tal ponto que tempo e espaço já não são mais os mesmos. A salvação pode ser a Torre. O livro é bem imaturo e a escrita é estranha, algumas idéias não são bem conectadas; mas a história já começa a envolver. Vale a pena ter força de vontade e seguir até o primoroso fim. Não vão se arrepender.

Em A Escolha dos Três, o segundo volume da saga, Roland - um andarilho solitário por natureza - descobre que precisa trabalhar em grupo. E é aí que conhecemos Eddie Dean - um viciado em heroína da Nova York dos anos 80, Odetta/Detta/Susannah - uma esquizofrênica negra sem as duas pernas da Nova York dos anos 60 e Jake Chambers - um garoto de 12 anos (que já havia sido companheiro de Roland em outro mundo...) da Nova York dos anos 70. Juntos eles formam Ka-tet (um de muitos) e descobrem como suas vidas estão intimamente entrelaçadas com o caminho da Torre.

Terras Desvastadas, o terceiro volume, é simplesmente maravilhoso. Aí sim temos King em sua melhor forma e já bem mais maduro. Diferente dos outros volumes anteriores, esse é devorável e repleto de ação. Com sacadas bem inteligentes e personagens maravilhosamente descritos. Os conflitos são sensíveis e os vilões reais começam a dar as caras.

O quarto capítulo, Mago e Vidro, narra o passado do pistoleiro Roland de Gilead. Esse livro é arrepiante. A série volta à adolescência de Roland, à sua primeira missão numa cidadezinha chamada Mejis e à uma moça chamada Susan Delgado. Apesar de delongar demais em alguns detalhes e chegar a entediar, quando o circo pega fogo na história pega fogo mesmo. Os conflitos já não são mais internos; quando chegamos ao final do livro, é difícil saber quem está certo e quem está errado. Além disso, é um divisor de águas na série.

Lobos de Calla é cheio de respostas (mas de lambugem, vêm mais um milhão de perguntas). O ka-tet vai para a estranha cidade de Calla Bryn Sturgis e mais uma vez os conflitos internos se soprepõem aos externos. A trilha para a Torre começa a ser mapeada, mas como tudo mais em King, sempre falta alguém para ler o mapa. A aparição sensacional de um personagem de outro livro de King dá um sabor especial a essa história.

O sexto volume é intulado a Canção de Susannah. O desenvolvimento do volume inteiro dá-se no breve período de um dia. Surpreendente, chocante, eletrizante, aterrorizante, angustiante e mais um bocado de outros -ante por aí, o livro é surpresa atrás de surpresa do início ao fim e está repleto das sacadas das mais geniais. Vale a pena ler a série inteira só pra chegar nesse ponto da história.

A Torre Negra é o volume que encerra a série, mas eu ainda não li. O motivo direto é porque ainda não tive tempo (leia-se dinheiro); e o indireto é porque quero saborear ainda mais um pouquinho essa série. Confesso que me surpreendi muito, muito mesmo, com esses livros. Não que duvidasse da capacidade do ´Tio Stevie´ de criar boas histórias, mas porque há uma filosofia bem composta e cadência de idéias impressionantes nesse novo universo. Ao mesmo tempo que é atual com suas incontáveis referências ao "nosso mundo", a ´Torre Negra´ retoma o sabor das narrativas fantásticas clássicas, do mundo do extraordinário. E essa mistura do contemporâneo com o fantástico é que dá o toque especial.

A ´Torre Negra´ é o eixo do tempo-espaço, mas também é o eixo central da obra de King; e porque não dizer eixo de todas as narrativas de fantasia e do pensamento do mundo contemporâneo? Oras, como diria Jake Chambers, há outros mundos além desse.

E essa série de King, como um desses mundos, vale a pena ser lida.



segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Dói

Esse texto tem todo o crédito da Amanda Pavani, minha amiga, dona do blog Since I´m here que está com problemas para atualização. Por isso, ela pediu que eu cedesse esse espacinho para ela aqui. Espero que gostem do texto, porque eu gostei.

"Acabei de fazer uma coisa muito bonita.

Porém, ao mesmo tempo, acabo de descobrir que caridade dói, e dói uma dor física que sufoca.

Estava eu indo à FUMP (o prédio onde é gerida uma fundação de assistência estudantil, ou seja, um lugar que ajuda alunos pobres), quando o ônibus virou uma esquina e eu não pude deixar de olhar pra um mendigo, sentado sob o sol forte, com roupas escuras, todas rasgadas. O cabelo dele estava despenteado, parecia meio branco, meio cheio de poeira, e ele empurrava-o pra trás de quando em quando. Pensei que ele estava no começo da Augusto de Lima. Observei enquanto o sinal continuava fechado o modo como as pessoas passavam direto por ele e senti pena. Lembrei-me então de um desejo que eu guardava desde antes de me mudar, e prometi-me mentalmente que, depois de resolver meus assuntos na FUMP, compraria uma daquelas esfihas de carne do Habib's, que são baratinhas, e levaria pra ele. Aquilo ia requerer uma caminhada enorme, mas eu decidi que não ia doer sair um pouco do meu caminho pra dar algo praquele homem comer.

Só que o 5102, pra quem não conhece, é um ônibus que dá voltas e voltas na Praça Raul Soares, e quando olhei para o começo da Augusto de Lima antes mesmo de descer do ônibus, vi que não era lá que ele estava. Desanimei, pensando que ele poderia estar em qualquer esquina no entorno da praça, e ficar rodando lá poderia ser perigoso. Daí surgiu a segunda promessa mental: se eu encontrasse outro mendigo no caminho, faria a caridade, mas sabia que era uma promessa vazia, porque o caminho do ponto de ônibus até a FUMP é curto e não costuma ter mendigos.

Resolvi meus problemas, fiz meu lindo orçamento de gramática e dicionário de inglês, e fui saindo do prédio. Assim que pus os pés do lado de fora, ali estavam elas. Três mulheres, parecendo tão miseráveis quando o mendigo da idéia original, estavam sentadas ao lado do prédio, com carinhas sonhadoras, uma delas só com os dentes de cima da frente, espaçados e protuberantes; outra parecia mais velha, com os cabelos cinzentos iguaizinhos aos do homem, e uma menina encostada nela. As três estavam pedindo esmolas com duas caixas de sapatos. Eu hesitei em passar no meio delas, dei a volta, fiquei parada na calçada, olhando pra elas, sem ser percebida.
Pensei: são três! Eu não tenho tanto dinheiro assim pra comprar esfiha pras três, e não posso dar de comer só pra uma. Vou embora...

Dei um passo à frente, parei de novo, e entrei na fila do Habib's que fica ao lado da FUMP. Comprei três esfihas de carne pra viagem e saí do prédio.

Primeiro eu me aproximei daquela com poucos dentes. Nem lembro direito as palavras que eu usei. Algo sobre perguntar se ela estava com fome e se gostava de carne. Entreguei uma esfiha, ela me olhou toda feliz, disse: "Deus te abençoe", e eu respondi "Amém", mesmo sem ser mais católica, que é o que eu sempre faço, pra não magoar os sentimentos religiosos das pessoas. Só que quando eu me virei pras outras duas, que já estavam alegrinhas por antecipação, eu não aguentei e comecei a chorar. Balbuciei de leve que tinha comprado uma esfiha pra cada uma. Entreguei as esfihas pra elas, depois os guardanapos. Voltei e entreguei guardanapos de papel pra primeira mendiga também, porque eu tinha esquecido.

Respondi aos agradecimentos delas de novo e me joguei na faixa, onde o sinal estava aberto pros pedestres. Estava chorando que nem criança, não consegui aguentar. Estava também com essa dor de que eu falei no começo, que pareceu fazer o meu coração inchar, ficar imenso, e me apertar por dentro; não tinha espaço pra mais nada, só coração.

Fiquei triste, porque aquilo era tudo que eu podia fazer por elas. Fiquei puta, porque todo mundo passa reto, todos os dias. Fiquei com vergonha, porque era a primeira vez que fazia isso, quando isso deveria ser um ato rotineiro, não só meu como de todas as pessoas. Fiquei me sentindo uma espécie de Cinderella Man, mas isso não me deixou tão feliz comigo mesma quanto achei que me deixaria, porque, de certa forma, eu estava sentindo dor. Era tão forte que eu fiquei assustada, enquanto subia a Espírito Santo. Achei que não ia conseguir chegar ao ponto de ônibus, passei direto por um hotel rico, com engravatados conversando educadamente à porta, passei por dois moleques com camisetas de Medicina da UFMG. E aquela dor não passava. Eu subi no ônibus, me sentei e continuei chorando, com todos esses pensamentos piegas que a caridade gratuita envolve, como "por que as pessoas deixam outras sofrerem desse jeito?" ou "por que ninguém faz nada?".

Não podia deixar de lembrar, também, do Machado de Assis, que é sempre essa droga dessa nuvem negra em cima da cabeça da gente, falando que nunca se faz nada gratuitamente. Se eu dei um pouquinho de comer pras mendigas, queria reconhecimento, seja por quem estava passando pela calçada, seja por quem vai ler essa postagem, ou qualquer pessoa que consiga ouvir essa história de mim. Mas tá doendo tanto, que eu queria abraçar a minha mãe. Nada que eu faça agora faz essa sensação passar, apesar de eu ter certeza que fiz não só uma coisa certa, como uma coisa admirável, mesmo que o meu subconsciente tivesse me jogado dentro do Habib's só pra aumentar minha auto estima, ou a estima de vocês sobre mim. Muita gente condena esses atos aleatórios de alimentação dos pobres, porque é apenas um modo de ilusão. Bom, não seria, se vossas senhorias fizessem o mesmo, de vez em quanto. As três esfihas me custaram 1,70. Não dói não. O que dói é o que vem depois.

Outra vontade que me tomou conta foi de gritar com alguém, de cuspir na cara dos revolucionários que agora enchem o campus da UFMG. Me deu vontade de quebrar alguma coisa cara de alguém importante. Deu vontade de me esconder."


Amanda Pavani.

Ultrabacana

É difícil eu ir em algum show. Primeiro porque normalmente as bandas que eu gosto não fazem apresentações na minha cidade e segundo porque quase nunca eu tenho dinheiro e/ou idade para ir nesses shows (se bem que na categoria idade eu me garanto a 11 dias! rs). Mas algum santo baixou, um milagre aconteceu e eu fui num show! É, uma amiga minha, a Lu, chegou e chamou pra eu ir no show do Cachorro Grande. Ela sabe que eu gosto da banda. E não é que eu logo tomei a iniciativa de comprar ingressos e tudo? Não é que eu empolguei com a idéia e topei ir mesmo com três dias de antecedência? *inserir icon de incadreditável aqui* É nessas horas que eu acredito que forças superiores de fato sussurram coisas nos nossos ouvidos...

18 de agosto. Sábado à noite. Music Hall. Festa Ultrabacana; shows com Pato Fu e Cachorro Grande. Na hora que eu entrei no lugar e ouvi a mulherzinha dizer "tenha uma festa ultrabacana" e me dar um pirulito juro que senti vontade de ir embora. Mas a vontade passou assim que cheguei no lugar da festa. A Lu concordou comigo: alguma coisa ali deixava a gente confortável. As pessoas não pareciam tão discrepantes quanto na maioria das festas. Claro, um bando de nerds! De diferentes categorias, é verdade, mas ainda assim estranhamente não-discrepantes de nós. Dá pra acreditar?

Ficamos bem perto do palco e quando o show do Pato Fu começou todas as nossas reclamações de que devíamos ter trazido colchonetes para dormir se mostraram infundadas: o show foi super animado. E eu descobri que sei mais músicas do Pato Fu do que pensava. As dancinhas toscas da Fernanda Takai foram ótimas (tá vendo? Eu ainda tenho futuro!). Me surpreendi e paguei língua mesmo. Excelente.

Pro show do Cachorro Grande as pessoas ficaram mais agitadas, brigando pra ficar mais perto do palco. E devo dizer que a maioria era composta de jovens de boina. rs Falar que foi uma apresentação empolgada é besteira. Foi animal! E terminou com um Rodolfo Krieger bêbado gritando que BH era foda e pulando em cima da galera. Como descrever uma coisa dessas?

(E como me perdoar por não ter levado uma câmera fotográfica?????????)

Parece estranho, né? Reunir duas bandas que a primeira vista são tão diferentes. E é mais estranho ainda perceber que você gostou dos dois estilos, e se divertiu igualmente com dois jeitos tão diferentes! Quer dizer, o show do Pato Fu é leve, bonitinho, empolgado, te faz balançar de levinho e dar pulinhos. Já o show do Cachorro Grande dá tanta energia que parece que você levou uma pancada na cabeça e ao mesmo tempo que tá destruído não consegue parar de gritar e dar verdadeiros saltos entusiastas... Fernanda cantando com suas dancinhas e Beto Bruno dando berros rodando o pedestal do microfone...

Como se junta gente assim no mesmo espaço? O que faz com que as pessoas gostem dos dois? Qual é a coisa que faz com esses dois sons sejam tão
verdadeiros? Qual elemento faz com que nos identifiquemos com as duas bandas?

Woo – Pato Fu

Faça algo mágico e faça agora
Ahaaa
Faça isso rápido e sem demora
Ahaaa
Siga a sua lógica indo embora
Ahaaa
Faça algo cínico e dê o fora
Ahaaa

Quando algo sai do seu controle
o mundo volta a respirar
A confusão pode ser doce
A perfeição pode matar....ah.....

Sinta seu espírito ir à forra
Ahaaa
Tranque esse cubículo por fora
Ahaaa
Veja como é ótimo, não tenha medo
Ahaaa
Conte o seu angélico segredo
Ahaaa

Quando algo sai do seu controle
o mundo volta a respirar
A confusão pode ser doce
A perfeição pode matar...ah...

Woo!

Woo!

Velha amiga
- Cachorro Grande

Você tem que olhar a estrada
Com uma cara cansada
Como uma velha amiga
Que você já não agüenta mais

Estou aqui de passagem
A vida é uma mala pronta pra viagem
Minha cabeça é minha bagagem
E a estrada é uma velha amiga

Com quem você pode contar, velha amiga?

C
ada um fala do que sabe.

Cada um faz a sua própria filosofia.

No final das contas, as diferenças não importam mais. A mensagem chega até nós da forma como tem que chegar.
Falando da vida como um grito histérico ou como uma estrada, não importa. É por isso que Pato Fu e Cachorro Grande conseguem pirar o mesmo público.

Cada um fala do que sabe. Da sua própria verdade.

...

Eu escrevo.



Ultrabacana mesmo!




domingo, 12 de agosto de 2007

Avô deserda Paris Hilton

Quando eu li essa notícia, três reações diferentes desencadearam ao mesmo tempo:

1 - Bem feito, aquela vaca! Se ferrou.
2 - Quem se importa?
3 - Golpe da mídia, mas que lixo!

É engraçado que quando o assunto se volta para a vida das celebridades, todo mundo enche o peito para dizer: "Mas é uma mesquinharia mesmo. Como se a gente estivesse interessado na vida deles. E a televisão empurra essa porcaria pra gente, como se fosse importante. Deviam investir em programas educativos que realmente ensinam as pessoas. Notícia de verdade". A maioria das pessoas presentes na conversa faz sinal de afirmação, algumas intervenções de concordância e no fim todos dizem o quanto o povão se deixa seduzir pelas pseudo-notícias. O mundo é lindo, as pessoas têm senso crítico, todos vamos viver felizes como irmãos pelo resto da eternidade... e bla bla bla. Acontece que em toda sala de espera de consultório médico ou dentário sempre tem uma revista ´Caras´. E todo mundo lê.

É inevitável. Você está lá sentado - numa cadeira que nem sempre é confortável - observando uma secretária - que nem sempre é agradável - antotar alguma coisa ou tomar o cadastro de algum outro paciente. A consulta como sempre está atrasada, já faz meia hora que você está olhando para a parede e de repente, num banquinho ao lado do lugar onde você está sentado está ´Malu Mader revela sua intimidade´. Quem resiste, né? O mundo conspirou para você pegar a revista e ler não só sobre a intimidade de Malu Mader, mas também sobre o fim do namoro da Débora Secco ("mocinha desfrutável!"), sobre a casa nova que o Fábio Júnior ("como se ele não tivesse muitas!") comprou e sobre o escândalo que foi a Lindsay Lohan aparecer sem calcinha numa festa ("aquela vadia!"). Nessas horas você esquece que normalmente é contra essas pseudo-notícias. Se esquece de que diz para todos os seus amigos que bom mesmo é ler ´Superinteressante´ ou, quando quer impressionar mesmo, ´Carta Capital´. Porque nessas horas o que realmente importa é que a Xuxa emagreceu 10 quilos! ("Magrela!")

A humanidade sofre do que eu chamo de fetiche do holofote. Vontade de estar lá sob as luzes da ribalta, de conhecer o mundo por trás da cortina de seda que é o show bizz. Chegar perto daqueles que estão lá em cima, conhecer seus segredos, se aproximar deles. Sentir, mesmo que seja falsamente, que estão perto deles... Porque em cima do palco o mundo é melhor. Em cima do palco as pessoas são mais bonitas, são mais bem vestidas. Em cima do palco os casamentos são perfeitos, as chances de criar uma ruga são mínimas e os rios de dinheiro... ah, os rios de dinheiro! Todo mundo quer ser famoso. E quando não dá, ler uma nota ou outra sobre o vestido novo da Sarah Jessica Parker ajuda a matar um pouquinho do desejo...

O problema é que humanos são bichos estranhos. São complexos, são paradoxais, são loucos, são esquisitos e principalmente, têm uma necessidade compulsiva de criar problemas. O problema do fetiche do holofote é: vamos fingir que somos cults, não ligamos para essa porcaria. E no fundo uma vontade louca de saber se a Angelina Jolie vive feliz com o Brad Pitt lateja no peito. Negação. Qual a solução para dar vazão a essa frustração? (quantos -ãos... rs) JOGA PEDRA NA GENI!

Ah, que alívio descobrir que o Tom Cruise tem TOC e que o Leonardo diCaprio terminou com a Gisele. Só não foi melhor que ver a Britney ser internada três vezes seguidas numa clínica de reabilitação e a Paris Hilton ser presa por 23 dias. Já que não podemos ser como eles, que possamos ver que eles são como a gente, não? Pior que a gente. É o tipo de pensamento que conforta as pessoas. Ao mesmo tempo que veneram celebridades, têm um prazer sádico em vê-las se darem mal. Eu disse que humanos eram estranhos.

Ninguém está livre da tentação de ler a manchete da ´Ti-ti-ti´ ou uma notinha da ´Querida´. Nem eu, nem você, leitor - que aposto que está agora mesmo dizendo que não lê essas porcarias sem conteúdo! -. Negação.

Será que tem mesmo algo de tão errado, de tão criminoso em ler "a última" na página principal do seu provedor? Será que vai pro inferno quem sabe qual o atual namorado da Jennifer Aniston? Será que é atestar seu baixo nível intelectual confessar em frente aos amigos que você achou horroroso o vestido da Helena Boham Carter na última Premiere do filme dela? (que é que era aquele echarpe, pelo hipogrifo sem dente!) Huuuuuuuuuum, acho que a resposta é não.

Mas existe uma coisa que realmente define a sua posição. Quando o dentista chama o seu nome você pára de ler. E aí, na volta pra casa, você lembra de outras coisas; daquele filme bacana que vocêu viu, ou da situação política do país; ou de uma piada realmente engraçada. Agora a notícia da Paris Hilton deserdada é um limbo na sua mente, e não faz diferença na sua vida... Afinal de contas, é só fruto de um complexo maluco da humanidade, não? É, não é tão importante assim..

Se três reações são desencadeadas ao mesmo tempo na sua mente com uma notícia desse tipo, não se preocupe, não há nada de errado com o seu cérebro. Você não será expulso do grupo dos nerds e seu livro favorito ainda pode ser O Senhor dos Anéis...




quarta-feira, 8 de agosto de 2007

17

Bem, é hora de dar adeus aos 17. Nossa, como eu gostei desse número! Apesar de todas as brincadeiras e piadinhas por ser a única da turma que ainda era uma underage, apesar de me sentir uma pirralha no meio de um bando de gente adulta discutindo literatura, eu posso dizer, com toda segurança do mundo, que os 17 valeram a pena. Valeram mesmo.

Com 17 anos eu estudei como nunca tinha feito na vida; com 17 anos eu descobri que os meus amigos são os melhores do mundo; com 17 eu vi que minha família me apoia em tudo (e tem uma paciência que só Deus sabe como resiste!); com 17 eu tive um namorado extremamente babaca (todos precisam ter um na vida); com 17 anos eu descobri que é bacana ensinar os outros; com 17 eu dei muita risada; com 17 eu chorei um bocado e gritei com pessoas com que não devia ter gritado. Com 17 anos eu já odiei andar de busão; com 17 anos eu entrei numa universidade federal renomada (três vivas para a UFMG!); com 17 anos eu descobri que tenho uma paixão maior por Teoria da Literatura do que por Linguística!; com 17 anos eu vi que muita gente joga a vida fora, equanto pouca gente vale a pena; com 17 anos, e eu ainda acho que a melhor banda do mundo é o Rush (apesar de escutar outras e achar que elas são boas); com 17 anos e o melhor presente que posso ganhar é um livro. Com 17 eu saquei que às vezes as pessoas mudam, mas isso não é necessariamente ruim; com 17 eu descobri que amizade on-line não é possível, mas duradoura (Resort 4ever); com 17 eu descobri que ainda sou capaz de escrever algo original (mas ainda acho que as fanfictions foram uma fase maravilhosa que talvez nunca passe de todo! R/H writer sempre!); com 17 anos eu li o final de Harry Potter (e chorei, descabelei, sorri, torci) e considero que essa é a melhor série já escrita! Jo é minha ídola!; com 17 anos eu vi que os teóricos literários podem ser bem idiotas e que às vezes, é melhor gostar de Harry Potter mesmo e ser feliz. Com 17 anos eu saquei que, bem, eu sou eu mesma. E que sou feliz assim. Os 18 não vieram para inaugurar uma nova fase e sim para confirmar tudo o que eu construí e fui nesses últimos 17 anos.

Eu vou sentir falta dos 17... Se o Stephen King tem o 19, eu tenho o 17. Então é com muita nostalgia que eu encerro esse post... É com saudade que amanhã caminho para os 18, lembrando da festa de aniversário surpresa... do cursinho... do primeiro dia na faculdade... do trote que minha família e amigos me deu... de todas as idas ao cinema e ao boliche com os amigos... dos rodízios de pizza... de Harry Potter... do Resort... das conversas tresloucadas no msn... das músicas ouvidas enquanto vagava na internet... das minhas fanfics... das fanfics dos outros!... das conversas com a minha irmã durante a noite e das teorias desenvolvidas do nada... do colo da minha mãe... das trocas de idéia com o meu pai... Não é realmente um adeus, eu sei. Eu não vou deixar essas coisas morrerem porque elas estão eternizadas para sempre na minha memória!

Eu agradeço a todos que estiveram comigo nesses 17 anos de vida! Sem vocês, eu não seria ninguém. Amo todos!




O espírito sem limites é o maior tesouro do homem.






terça-feira, 31 de julho de 2007

Jo

Hoje faz 42 anos que nasceu, nos arredores de Bristol (Yate, Gloucestershire), a primeira filha do casal Peter Rowling e Anne Volant. O nome de batismo foi simples: Joanne, apenas. Algumas décadas mais tarde, e ela viria a pedir emprestada a inicial da avó, Kathleen. E o sobrenome, que ela não gostava quando era mais nova porque rendia piadinhas to tipo "Rowling Stones" e "Rowling Pin", iria tornar-se sinônimo de sucesso.

Jo - como gosta de ser chamada - era uma criança normal, que gostava de brincar nas escadas com sua irmã mais nova, Dianne, e que apesar de demonstrar desde cedo algum interesse pela escrita - de vez em quando se dedicava a histórias protaganizadas, principalmente, por animais - não deixava de ser absolutamente comum. Detestou algumas escolas em que estudou e brigava com a irmã mais nova para logo depois fazer as pazes e inventar novas brincadeiras do tipo role play. Rowling ainda diz em seu site que Di era mais bonita, então todos decidiram que ela, Joanne, deveria ser a mais inteligente. Mas Jo afirma que durante muitos anos desejou poder ser mais atraente e Di fez de tudo para provar que não era só um rostinho bonito. Ninguém é satisfeito com o que tem, não?

Já na adolescência, tomou por heroína Jessica Mitford, usava maquiagem preta nos olhos e tinha como bandas favoritas os Smiths e o The Clash. Foi uma bênção quando conheceu em Chepstow (uma cidade em Wales, para onde havia se mudado com os pais) Sean Harris, dono de um Ford Anglia turquesa. O carro era uma verdadeira liberdade para dois jovens amigos que viviam numa cidadezinha muito monótona. E foi para esse Sean que Rowling contou sua maior ambição: a de se tornar escritora. Como um bom amigo, ele a incentivou. (Abençoado seja Sean Harris!)

Em 1983, foi para Universidade de Exeter, no sul da Inglaterra estudar Língua Francesa. Jo assume que esse foi um grande erro, pois lhe teria sido muito mais útil uma formação em Inglês. Ela cedeu à pressão dos pais, que diziam que era mais proveitoso estudar francês. "Mas pelo menos estudar francês significou que eu vivi um ano em Paris como parte do meu curso" - diz ela.

O primeiro trabalho de Rowling foi na Anistia Internacional, em Londres. Mas ela e o namorado de então decidiram se mudar para Manchestar e foi numa dessas viagens Manchester-Londres que um certo menino bruxo chamado Harry, apareceu em sua mente. Joanne não tinha caneta para escrever, então passou o resto da viagem desenvolvendo mentalmente todos os pontos da história. Quando chegou em casa à noite, escreveu furiosamente. As idéias foram lhe brotando na cabeça e a história se desenvolvendo. No entanto, em dezembro daquele ano (1990) a mãe de Jo, Anne, morreu vítima de esclerose múltipla.

Rowling afirma que sua morte afetou profundamente sua escrita. A dor e o sentimento de seu recém-criado personagem, Harry, com relação aos pais mortos agora eram mais reais. Desde então, o tema central da série Harry Potter passou a ser a morte. A relação das pessoas com a morte, as consequências da morte, o medo da morte. Recentemente, Jo lamentou o fato de nunca ter contado para a mãe sobre Harry Potter.

Precisando de um tempo para colocar a mente e os sentimentos em ordem, Joanne foi para Portugal ensinar inglês como língua estrangeira. Ela imaginava que voltaria para Inglaterra com seu livro terminado, mas voltou com uma filha. Jessica Rowling Arantes nasceu no meio do ano de 1993. Rowling havia se casado com um jornalista português, mas o casamento não durou até dezembro. Com uma filha de colo, ela foi embora (ou expulsa, depende da versão da história) para Edimburgo, onde morava sua irmã.

Mesmo vivendo com ajuda do auxílio-desemprego e tendo de cuidar de uma filha pequena, Jo não parou de escrever. Ela dedicava suas noites na infindável tarefa de terminar Harry Potter e a Pedra Filosofal. Durante o dia, quando levava Jessica para dar um passeio e a menina dormia, ela entrava no café mais próximo e escrevia energicamente. Quando o livro ficou pronto, ela enviou os três primeiros capítulos para algumas agências. Várias versões voltaram. Então, a Bloomsbury - uma pequena editora, na época - fez uma oferta. O resto é história.

O que mais me admira em Rowling, não é o bilhão de dólares que ela tem em sua conta, não é a boa crítica em cima dela nem a fama. O que me faz contar e recontar a história dessa mulher a cada vez que alguém me pergunta (e até quando não pergunta) é o fato de que ela fez uma coisa boa. Uma coisa marcante. Ao invés de se sentar em seu apartamento e se desesperar enquanto cuidava da filha; ao invés de surtar; ao invés de chorar a perda da mãe e a falência de seu casamento; ao invés de ficar com raiva do mundo e da droga da vida injusta, ela fez uma coisa boa. Obviamente que sua escrita era uma espécie de fuga. Era um mundo que ela mesma criara, e apesar de não ser o mundo perfeito, naquele mundo Rowling podia ser ela mesma. Escrevendo não dá pra mentir. Mas mesmo sendo fuga, ela queria fazer alguma coisa. Não era só uma questão de "bem, to mal, vou viajar na maionese um pouco"; ela acreditava no que fazia. Claro que não esperava a súbita fama e dinheiro, mas sabia que Harry Potter - aquela história que martelava o tempo todo em sua cabeça - era uma coisa boa. E ela quis mandar esse bem para o mundo. Quis que fosse publicado, mesmo com apenas 1,000 cópias iniciais.

Com tanto lixo nesse mundo eu realmente fico feliz ao ver que alguém como Jo conseguiu espalhar com estrondoso sucesso um livro recheado de temas como amizade, consciência, fidelidade e amor. Por que essas coisas não colam hoje em dia, não? É fora de moda. Mas em Harry Potter, Jo reformatou todos esses valores e os transmitiu a milhões de pessoas no mundo inteiro! Ela fez essas pessoas rirem, chorarem, torcerem, repensarem suas vidas. E ainda dizem que é só a história de um bruxo? Só para quem não abre a cabeça um pouquinho para entender o que há por trás das capas, caldeirões e varinhas! A fantasia não é real? Então como uma mulher real, enfrentando graves problemas emocionais e financeiros reais conseguiu esquecer do mundo real em que vivia para escrever um livro que seria puramente ficção? A imaginação dela é realmente grande, mas não tão grande a ponto de não refletir influências reais. Porque conflitos existenciais sempre existirão por aí, porque sempre haverá no mundo necessidade de amor para vencer os problemas, porque a morte paira sob todos nós mesmo que não seja sob a forma de Avada Kedrava, porque é simplesmente impossível negar que aqueles personagens - que fazem feitiços e voam em vassouras - não sejam irresistivelmente parecidos com nós mesmos.

Eu admiro Jo por ter sempre acredito em sua história, por tê-la escrito da forma como a concebeu naquela viagem de trem Manchester-Londres... Eu admiro Jo por ter feito pessoas gostarem de ler, por ter incentivado a pesquisa e as outras formas de literatura. Eu admiro Jo por não ter dado a cara a bater, por não ter sucumbido à fama e por ser tão sem graça com os jornalistas mexeriqueiros. Eu admiro a Jo por não fazer nada a não ser rir quando sai matérias sobre ela no The Sun e por tratar tão bem e respeitosamente seus fãs, espalhados pelo mundo inteiro. Eu admiro Jo por seu trabalho junto a instituições de caridade e por sua contribuição financeira no desenvolvimento da pesquisa para cura de doenças como a esclerose múltipla. Eu admiro Jo por ser uma mãe dedicada. Eu admiro Jo por nunca ter tratado seus fãs com ar de superioridade, por responder educadamente a cada pergunta, por dividir conosco alguns de seus pensamentos e principalmente, por nunca ter subestimado a nossa inteligência. Ela sempre nos tratou de igual pra igual. Eu admiro Jo por ser uma escritora de talento e por ter espalhado uma mensagem tão bonita através de seus livros. E finalmente, eu admiro Jo por ter me feito acreditar nesses livros, por ter me feito crescer com eles, aprender com eles. Por ter feito Harry Potter ser uma parte tão importante da minha vida.

Eu desejo a Jo o melhor aniversário que ela puder ter, toda a felicidade que ela puder encontrar e todo o amor que ela puder alojar em seu coração!

Draco dormiens nunquam titilandus.



J.K.Rowling tem a Ordem do Império Britânico, um honorário na Universidade de Exeter, um honorário da Universidade de Aberdeen por suas inúmeros contribuições à sociedade e é considerada a maior escritora britânica viva pela The Book Magazine.

Atualmente tem residência em Edimburgo, em Londres e em Alberfeldy; todas elas avaliadas em alguns milhões. Ela é casada com o anestesista Neil Murray e teve mais dois filhos: David e Mackenzie. Ela se julga uma pessoa de sorte e muito feliz com a família que tem.

Todas as informações desse post foram retiradas de jkrowling.com e a confirmação dos prêmios, da Wikipedia.






domingo, 29 de julho de 2007

Nublada Existência

*Saído direto da minha cabeça*

Ele precisava dizer aquilo. Colocar pra fora aquela coisa que batia dentro dele como um tambor descompassado. Era tão mais fácil nos filmes... Nos filmes o herói confessava depois de um grande momento de glória, olhava dentro dos olhos da mocinha e, se desse sorte, ganhava mais que um beijo. Mas aquilo não era um roteiro de cinema, era a vida real. E as coisas são mais difíceis na vida real, porque se errar, não tem como rodar a cena de novo...

O nome dele era Don. Deixava os cabelos caindo desajeitados por cima da testa, não por estilo ou qualquer outra coisa assim, mas porque tinha preguiça de pentear. Usava uma camisa que parecia grande demais para ele e tinha a mania de usar tênis dentro de casa. Os olhos eram castanhos, vivos e grandes; e possuíam aquele brilho indefinido, pouco comum em garotos da sua idade.

Don deu uma olhada para uma mancha escura no teto do quarto. Quando pensava em alguma coisa com mais profundidade do que supostamente deveria, encarava a mancha inconscientemente. Como se ela pudesse lhe dar alguma resposta. Como se dela fosse de repente sair alguma coisa fantástica e dizer: “Parabéns, Don. Seus problemas acabaram!”.

Balançando a cabeça, sentindo-se extremamente patético, Don abriu a gaveta da escrivaninha lentamente.

- Don, desce aqui embaixo! Se demorar, vai ficar sem lanche!

Era a mãe. Desejou que ela tivesse feito bolo. É, bolo seria bom. Só agora percebia o quanto estava com fome.

Pegou o caderno de capa vermelha que estivera aberto em cima da escrivaninha e guardou-o dentro da gaveta, dentro de uma inocente e digna revista de carros com data de publicação do ano anterior. Assim, não chamaria atenção de Martin ou de qualquer um de seus outros amigos. Era o único modo de ficar seguro. Achava que não suportaria se alguém descobrisse o conteúdo daquele caderno de capa vermelha. Não, provavelmente não suportaria. E sumiria da cidade caso isso acontecesse. Ninguém, no mundo inteiro, jamais saberia que Don escrevia poesia.

Poesia.

Aquilo já vinha acontecendo há um tempo, desde uma aula de literatura particularmente tediosa da Sra. Shaw. Com aquele sotaque bizarro, a velha discursava sobre métrica, sobre pentâmeros e alexandrinos e sobre gente que já estava morta há muito tempo. Depois de quinze minutos de prelação, Don perdeu a batalha para o ócio e passou a dedicar a ele o tempo restante da aula. Então, uns quinze minutos antes de tocar o sinal, a Sra. Shaw – o sotaque mais forte do que nunca tamanho o entusiasmo – mandou que os alunos escrevessem um pequeno poema, tentando “à medida do possível, claro, utilizar os elementos que discutimos hoje”. Quando a classe ameaçou um protesto, ela acrescentou depressa:

- Visto no final da aula!

Martin mandou uma bolinha de papel na nuca de Don e os dois começaram uma discussão sobre as possíveis atividades da tarde. Estava empolgado com a perspectiva de dar uma caminhada no centro e jogar futebol, quando sentiu aquele cheiro de naftalina do vestido da Sra. Shaw. Virou-se para o lado oposto e deu de cara com a própria professora, que exibia nos olhos aquele olhar insano faça-a-droga-do-exercício-ou-juro-que-estouro-seus-miolos. Don não ousou discutir; a mãe e o pai lhe arrancariam as tripas caso se metesse em outra confusão.

Encarou as linhas azuis do caderno.

- Odeio essa aula, cara – ele ouviu Martin sussurrar atrás dele.

- Eu também – respondeu Don e antes que a Sra. Shaw pudesse encontrar motivo para se aproximar de sua carteira, começou a escrever alguma coisa.

Escrevera rápido e sem dificuldade. Quando releu o que havia escrito percebeu, horrorizado, que seu poema tinha todas aquelas qualidades que a professora havia pedido. Métrica, rima, fluidez. Sem saber o que era pior – saber o que significava aquelas palavras ou aplicá-las num trabalho sem saber – fez a única coisa que lhe pareceu sensata no momento: apagou o poema furiosamente.

Ganhou um zero redondo pela atividade.

Mas aquela experiência estranha não parecia querer deixá-lo tão cedo. Quando chegava em casa à tarde, suado e melado de um jogo de futebol ou de uma corrida de bicicleta na avenida, começava a pensar sobre velocidade, sobre liberdade e sobre glória. E aqueles pensamentos irritantes explodiam sua cabeça e ele só conseguia se livrar deles quando os escrevia. O caderno de capa vermelha, encontrado embaixo da cama, não demorou a ser a cura de suas terríveis dores de cabeça.

A coisa não parou. Quando ia ao shopping com os amigos olhar as garotas bonitas, chegava em casa e escrevia sobre labirintos sem fim, sobre efemeridade (Raios, ele sabia o que uma palavra daquelas queria dizer!), sobre sentimento de perda. Quando dava uma volta de carro com o pai escrevia sobre os tons de verde do campo, os pássaros que voavam livres na imensidão do céu e a gaiola que era sua própria realidade. E claro, quando via Lola escrevia furiosamente sobre sol, solidão, medo, angústia e melancolia. Se algum de seus amigos descobrisse... Se eles suspeitassem... Engoliu seco, saiu do quarto e desceu as escadas.

Aquilo era coisa de bicha. Não era coisa de garotos normais de dezesseis anos. Que seria de sua reputação se alguém soubesse que ele versava sobre todas aquelas coisas, sobre todos aqueles vazios, sobre a existência nublada de sua vida? “Existência nublada... Vou guardar essa para depois...”. Teve uma súbita vontade de cair da escada e quebrar o pescoço com o pensamento.

- Doooooooooooooooooooooooon!

- Eu já to indo, mãe! Que coisa! – bufou ele, andando mais rápido até a cozinha.

Por que ele? Por que? Dentre todos os garotos do mundo, ele tinha que pensar naquilo tudo? Será que aquela coisa nunca mais o abandonaria? Será que ele passaria o resto da vida pensando ritmado? Cheio de viadagem? Era uma merda. Não havia outra palavra para expressar; era uma grande merda. E provavelmente iria enlouquecer. Ia sim. Iria enlouquecer a medida que aquele maldito caderno de capa vermelha era preenchido...

- Puta que pariu, viu... – xingou baixinho assim que chegou na cozinha.

- Olha a boca na minha cozinha, moleque! – repreendeu a mãe.

- Desculpa, mãe – ele disse rápido, puxando a cadeira do balcão.

- Você e seu pai... Essa mania horrorosa de se expressar com as piores palavras da face da Terra! Ainda mais na frente de visita...

- Desculpa, mãe – ele repetiu, sem prestar muita atenção. Estava com fome. E tinha bolo.

- ... eu realmente peço desculpas, querida.

- Não tem problema não, dona Arminda.

Don estacou. Estava mesmo com fome? O bolo de repente lhe parecia desinteressante. O mundo parecia desinteressante. A cozinha tinha de repente ficado mais escura... Ele se virou, tremendo idiotamente, e a encarou. Ela.

Era ela. A única coisa realmente iluminada. O sol, mas com aquele brilho místico das estrelas. Aquela certeza determinada que sorria nos olhos, a delicadeza que ela habilmente escondia por trás daquela pose sarcástica... Não havia muito a dizer sobre ela, não havia como descrevê-la. Deixar a mente vagar pelas verdades escondidas por trás daquela garota... Se o coração batia dentro de uma gaiola, como diziam os Strokes, então ela tinha a chave. Ela tinha que ter. Para poder arrancá-lo daquilo tudo. Pois não haveria paz, não haveria sono, não haveria nada em sua vida sem aquela presença iluminada em meio às trevas. De nada valeria sua alma, ele já a tinha leiloado. E ao que parecia, aquela garota ali na frente foi quem fizera o lance mais alto. Aquele pânico involuntário, aquela sensação indesejada, não era nada menos que a expressão física de algo que foi perturbado em águas mais profundas. Na existência nublada.

Don estremeceu.

Ele era um artista, santo Deus! E era danado de bom.




sexta-feira, 27 de julho de 2007

In Memoriam

**************************** AVISO **************************** Esse post contém spoilers grandes, surpreendentes e dolorosos de Harry Potter and the Deathly Hallows. Se você não deseja ser surpreendido, sugiro que pare a leitura já. Eu avisei. É a sua última chance de procurar alguma coisa menos terrível para ler. *********************************************************************













Vai ler mesmo assim?



















Okay, okay, a responsabilidade não é mais minha.















Pela memória de Fred Weasley

Se tem uma coisa que me impede de reler Harry Potter and the Deathly Hallows nesse exato momento é Fred Weasley. A morte de Fred Weasley. Esse livro – primoroso e brilhante! - me deixou chocada, horrorizada, eu tive vontade de parar de ler em vários pontos. Tudo bem que uma verdadeira guerra se formava no mundo de Rowling e que nós estávamos lidando com “o mal puro”, mas nada, digo nada mesmo, poderia me preparar para encarar a morte de um dos gêmeos Weasley.

A morte do Olho-Tonto, do Dobby, (que eu digo que senti muito mesmo, mais do que imaginaria sentir), de Colin Creevey, de Lupin e Tonks pareceram fichinha. Poucas páginas depois do tão esperado e glorioso beijo entre Ron e Hermione, Fred Weasley é assassinado por um dos Comensais da Morte enquanto lutava ao lado de seu irmão Percy. Morreu contando uma piada.

Eu entrei em estado de choque. Não consegui absorver as páginas seguintes, a única coisa que parecia importar era que Fred Weasley estava morto. Morto. Nunca mais iria dar outra tirada sensacional, nunca mais terminaria as falas do irmão, nunca mais chamaria Angelina Johnson para ir a um baile, nunca mais tiraria onda com a cara da mãe. Porque ele estava morto. Acho que não perdôo a Rowling por isso.

Fred Weasley era um cara inteligente apesar de ter tirado apenas três N.O.M´s e nunca ter terminado a escola. Ele e seu irmão gêmeo, George, passavam o dia dentro do quarto na Toca, “explodindo” coisas. Essas explosões, mais tarde, vieram a se tornar invenções e parece estranho alguém considerá-los apenas arruaceiros quando criaram todas aquelas mágicas incríveis para a loja de logros e brincadeiras. O objetivo de sua vida era trazer alegria às pessoas, tornar aquele mundo cinza em que viviam um lugar mais feliz.

Fred Weasley se importava com sua família. Importava sim, porque apesar do desejo de ser independente e ter seu próprio dinheiro, ele sempre teve orgulho de Arthur. Mesmo com todas as brigas e discussões, ele amava Molly. Ele cuidava da Ginny e ficou feliz quando Ron se tornou uma sensação do quadribol. Sua personalidade descontraída e o lema de “jamais perder a piada” não o impediu de defender os pais contra os horrores que Percy disse a eles; mas seu coração essencialmente bom fez com que perdoasse esse mesmo Percy e fez com que lutasse ao lado dele, com orgulho, até o fim.

Fred Weasley era um autêntico grifinório. Ele honrou a casa a qual pertenceu. Era nobre e corajoso, morreu na frente de batalha, defendendo o que acreditava e aqueles a quem amava. Ele não hesitou um único segundo; respondeu ao chamado de Neville, ansioso pela batalha, afinal de contas, se demorasse muito “todos os Comensais realmente bons já teriam ido” – como disse bem seu gêmeo.

Fred, assim como o fantasma do seu sorriso não deixou seu rosto na hora da morte, a chama da sua alegria jamais deixará nossos corações. Que a partir de agora não haja mais lágrimas, que lembremos de você como foi em vida: sempre sorrindo. Afinal de contas, a força do verdadeiro sentimento jamais nos deixa.

E mais uma vez temos a prova de que os livros de Rowling são mais do que apenas livros. Que seus personagens são feitos de algo que vai além de mero papel e tinta. Eles vivem de alguma forma dentro de nós. Nós choramos com eles, sorrimos com eles, vivemos com eles. Jamais os esqueceremos porque eles estão dentro de nós.


Fred Weasley

Amado irmão, filho e amigo.
“Coragem sem hesitação e nobreza diferenciam os alunos da Grifinória dos demais”.